quarta-feira, outubro 01, 2008

O Dia



7:00 do dia 30 de Agosto de 2008

- João, estou a ter contracções fortes.

Todos os meus amigos sabem que eu poderia muito bem viver numa passagem de nível, ou até mesmo numa pista de aviação, porque para me acordar não é um qualquer 747 que me faz saltar da cama...mas no dia 30 de Agosto bastaram estas palavras para o meu corpo sair da cama que nem um míssil teleguiado.
Não sei se por me levantar de forma imprópria ou talvez por nervosismo, mas, até eu senti as contracções.

Após os banhos tomados e últimos preparativos para a viagem que eu tanto aguardava passaram 30 min, o que naquelas circunstâncias mais pareceu durar 3H.
A viagem até ao Hospital durou menos de 30 min (Ericeira-Almada), geralmente os homens aproveitam o facto de se tratar de uma emergência para poderem soltar os cavalos das viaturas, mas no meu caso, eu apenas não queria que o meu filho fosse registado como natural de A8,Eixo N-S ou até mesmo Ponte 25 de Abril...

Às 08:07 já aguardava-mos na sala de espera para que a futura mamã fosse encaminhada para o bloco de partos, pouco depois e atendendo ao estado em que se encontrava a Elsa, rapidamente perceberam que não tinham ali uma “fiteira”, e por essa razão mandaram entrar (o comportamento da futura mamã era semelhante à dos artistas de circo que se contorcem todos para caber numa caixa de sapatos).
Pouco depois da chamada, regressou novamente à sala de espera, mas desta vez com uma indumentária que eu nunca tinha visto em nenhum cabide lá de casa, entregou-me todos os bens pessoais e foi acompanhada por duas enfermeiras para o BP.
Aguardei pacientemente na sala, até que alguém me chamasse para poder presenciar o momento que eu tanto aguardava.
Às 10:20 apareceu uma enfermeira a chamar por mim, obviamente que um futuro pai não consegue estar sentado tranquilamente como se estivesse numa sala de cinema, mas o meu esquema estava montado, a minha sobrinha estava sobre alerta e quando isso acontecesse iria a correr chamar-me à entrada do Hospital, onde eu me encontrava a devorar cigarros, infelizmente.
Às 10:20 e 30 segundos eu já estava no local da acção, mas antes disso tive um pequeno episódio no bloco partos (claro!!!). Quando me disseram para eu entrar para junto da futura mãe, não me explicaram qual era o caminho correcto e qual o caminho a evitar, simplesmente disseram, entre por favor. Poucos segundos depois estava uma enfermeira SUPER indignada a questionar-me:
-“o que é que o sr.está aqui a fazer? Não pode estar aqui!!”
-“ Mas, mandaram-me entrar!”
-“ Mas não é por aqui, é pelo outro lado!!!”
-“ ok, peço desculpa”
Só depois percebi o erro que tinha cometido, era suposto eu ter entrado para os bastidores e não para o palco, onde eu me encontrava era, o centro das salas de expulsão, onde a única barreira entre mim e as futuras mães (em posição de expulsão) eram cortinas entre-abertas, e para o bem de todos aquela enfermeira apareceu, de outra forma eu teria aberto todas as cortinas até encontrar a minha grávida, enfim =).

Já na local de acção e 3H de nervosismo acumulado lá estava eu, a futura mamã e um batalhão de batas verdes.
É um momento de uma tensão inexplicável, o papel do pai é apenas observar e “rezar” para que a mãe não sofra, e que o parto seja o mais breve possível, e neste caso, não poderia ter sido melhor, às 11H o Gui estava cá fora.
Eu sempre achei que não iria suportar todo aquele aparato típico de um bloco de partos, o sangue, as entranhas ali estendidas na mesa...mas para meu espanto aguentei e estava pronto a assistir a Médica noutros partos, se necessário, inclusive, fui eu cortei o cordão umbilical.
Sempre achei a mamã uma mulher forte, mas não estava consciente até onde iria toda aquela bravura e resistência, impressionante...Parabéns pelo desempenho mamã e por suportares tão calmamente todas aquelas dores, ajudaste-me mais a mim que eu a ti =).



Poucos minutos depois com banho tomado e vestido eu tinha no meu colo o miúdo mais lindo que alguma vez tinha visto, sangue do meu sangue.
Sempre fui da opinião (e continuo a ser) que os bebés quando nascem não são bonitos, não são, mas desde o momento que vi o Gui, ainda com aquele sangue todo, fiquei com a forte sensação que nunca tinha visto nada tão lindo e tão perfeito.





É seguramente a ligação mais forte que alguma vez senti por alguém, chega a ser assustador o que estaria disposto a fazer por ti, Gui.

2 comentários:

OJ disse...

Como te compreendo meu amigo... O sol tem sempre mais força quando estamos com eles... Mesmo em dias de chuva! ;)

Anónimo disse...

Que mais posso eu dizer diante de tanta felicidade?! Simplestemente, MUITOS PARABÉNS. Gui bem-vindo! Não te preocupes ainda vamos os dois a um concerto de The Cure.Um beijinho para a Elsa e outro para o papá.